O nome da minha filha é Ana. Chamamos também de Ana Bacana, LindAna, mas normalmente a chamamos por Amorzinho, Amada ou algo do tipo. Do mesmo jeito chamo minha mulher de Mi em vez de Milene, e quando sou chamado pelo meu nome, parece que aprontei alguma coisa. Bom, de qualquer forma seu nome é Ana.
Na rua chamam ela de “linda”, mas seguidamente ouço pessoas chamando ela de “Princesa”. Eu pessoalmente não gosto de “Princesa”.
Procurando por um presente no shopping, eu vi um livro com o título “Princesses can be pirates too”. O livro como parece coloca as coisas como devem ser: meninas podem ser qualquer coisa que um menino também possa, para ser mais específico, meninas podem ser/fazer qualquer coisa que um menino “tradicionalmente” faz, ou qualquer coisa que a sociedade diga que um menino deve/pode fazer. Elas podem jogar com bonecos do estilo “comandos e ação”, jogar futebol, brincar de carrinho, podem se sujar, podem brincar com avião de papel. E obviamente podem ser piratas.
Mas não posso deixar passar o “princesamento”. Primeiramente, por que elas são princesas? Elas já começam estereotipadas, e se elas não quiserem ser? E se elas não quiserem nada que ligue ao mundo da realeza?
Pode-se ver nas imagens da idade-média, homens segurando armas na frente de suas filhas nas noites de “debutantes”. Eu já vi camisetas dizendo o que o pai faria se um menino chegasse perto de sua filha. Já vi os “machos alpha” afirmando que devem proteger sua filha dos meninos do bairro, como se esse homem que criou uma redoma em volta de sua filha para afastar homens inferiores, fosse melhor do que todos os outros. Eu detesto que as jovens sejam tratadas como prêmios, porque quando você passa anos agindo como o Sr. Protetor com sua arma bloqueando qualquer pretendente, você está dizendo ao mundo que minha preciosa filha é um prêmio, não uma mulher, e não sua própria pessoa comum nome e propriedade de sua vida, mas um prêmio. Meu prêmio.
Os meninos são idiotas. Eu era um deles, e sim, eu era idiota. Mas meninas são idiotas também. Na verdade, todas as crianças são idiotas em um ponto ou outro, e cometem erros e tropeçam e babam até que, magicamente, possam formar frases e exibir momentos de responsabilidade. Nós os deixamos cair porque queremos que eles aprendam. E a Ana aprenderá. Ela não será protegida pelo fosso em volta do castelo. Ela não será empurrada para algum pacote bonito para um desfile.
Isso não quer dizer que ela não será uma “princesa”. Ela pode ser o que quer que seja, quer seja uma princesa, uma pirata, uma rã, uma arquiteta, uma jogadora de hóquei, uma atriz ou seja lá, o que for. Se ela quiser mudar todos os dias, que seja assim. Eu abraço tudo o que ela deseja com os braços abertos e a orientação necessária, enquanto ela se importar. Mas não vou forçá-la a um papel. Não digo ao mundo a minha definição dela. Ela vai fazer suas próprias definições, e nós estaremos lá para apoiá-los. Se ela deseja ser uma princesa, então vou abaixar a ponte levadiça.
Eu simplesmente não quero que ela faça coisas porque todos dizem um “nome”. Mas chamar de princesa repetidamente só reforça que ela está no caminho rápido para usar vestidos de baile e tiaras. Ou talvez não – talvez ela possa ser como a Princesa Jasmine, mas, novamente, o propósito completo de Jasmine em “Aladdin” é ser a garota que o garoto consegue.
Talvez você possa ver meu problema aqui.
Fiquei atento às etiquetas. Eu não quero que a Ana caia em um rótulo que a define antes que ela se defina. E eu certamente não quero defina-la. Então, estou rejeitando abertamente “Princesa”. Penso que também estaria rejeitando as pessoas que a chamavam de “Escoteiro” ou mesmo “Mulher desagradável”. Sou progressista. Espero que a Ana escolha políticas progressistas. Mas tudo o que posso fazer é ter esperança, não posso forçá-la a algo que ela não quer.
Por enquanto, o que ela quer é andar, correr, brincar com os cachorros, pular, dançar, colocar as mãos em tudo e ser feliz demais. Isso é o suficiente para mim. Chegará a hora de querer ser um pirata, uma princesa ou algo completamente diferente. E o que quer que ela escolher, onde quer que ela vá, vou abraçá-la e ajudá-la e chamá-la de qualquer nome que ela quiser.
Mas hoje? O nome dela é Ana.